(NEDERLANDS) (ENGELS)
A música triste é maravilhosa naqueles momentos em que sinto subconscientemente a necessidade de sentir tristeza, dor ou o sofrimento da vida em geral. A música ajuda a ampliar esse sentimento. Posso seguir dois caminhos com isto: afundar-me em autopiedade ou observar o sentimento no meu corpo de todos os lados sem julgamento e deixá-lo derreter. Não sou muito bom na primeira opção, porque sei que cada lágrima que verto é o início de uma nova história à qual me posso agarrar. Eu prefiro a segunda opção e estou a melhorar.
Desde que vivo no sopé de Marvão em Portugal, tenho pouca necessidade de música. Os sons da natureza são tão harmoniosos que tudo o que o homem faz parece fazer barulho. Posso, contudo, tolerar Bach ou Mozart ou aquele belo concerto de Poulenc. Especialmente quando estou a escrever e está tudo calmo em casa, excepto para os cães e gatos que roncam. Só quando estou no carro é que ligo a rádio portuguesa. Antena 1. Os mainstream media de Portugal. Podem falar tanto lá como no rádio holandesa NPO. Ouço porque é bom para o meu português e porque ainda quero saber no que as pessoas têm de acreditar.
De repente, o locutor diz: “Um pouco antes das cinco horas, temos um novo artigo chamado Música triste. Arrebito a orelha. O quê, penso eu, música triste? Tenho de rir. Poderia esta escolha resultar da natureza sofredora dos portugueses? Quando volto para o carro, são quase cinco horas. Eu ouço. Não fado português, apenas música pop inglesa triste sobre um amor perdido. Estou desiludido. Porque não conheço nenhuma música mais triste do que o fado, que está cheio de um desejo indefinível que nunca será cumprido, e eu amo-o. Basta ouvir no Youtube a moçambicana Mariza quando ela canta a canção com o título Chuva.