(Nederlands) (English)

Leone Holzhaus with dog Kitty on the doorstep of her Gallery Leone Art Lab in the castle of Marvão

Hoje saí da nossa quinta, virei a pequena rua para a esquerda e vi o cão Kitty a passear por lá. Ela estava a dar um passeio sozinha. Quando ela viu o meu carro, parou. Também eu. Eu saí e disse-lhe para voltar para casa. Ela olhou para mim e, antes que eu desse por isso, saltou para o carro e sentou-se no banco do passageiro. Triunfantemente, ela continuou a olhar para mim. Ela não voltou a deixar o carro. Também é bom. Tirámos o cobertor do bagageira, colocámo-lo no seu lugar – penso que a Kitty muda muito de pêlo – e assim saímos juntos para ir às compras. Kitty totalmente contenta porque é isso que ela sabe. Até há um ano atrás, dirigia diariamente para Marvão e de volta para casa com a sua dona Leone Holzhaus que tinha a sua galeria no castelo. Ela sempre adorou aqueles passeios e o carro de Leone era a sua segunda casa. Comigo, ela só vai no carro quando tem de ir ao veterinário. Por isso, esta excursão tinha surgido sozinha. 

Porquê hoje? 

Suspeito que ela sente na energia que estou ocupada com Leone. A sua data de falecimento é 12 de Fevereiro de 2022 e isso faz agora um ano. Como a irei comemorar e com quem? Quando é que vou à sua sepultura e o que é que lá ponho? Devo levar a Kitty comigo ou não? Talvez ela também tenha reconhecido o nome de Leone nas conversas que tive com o meu marido Coen e com Bianca, a irmã mais velha de Leone, na Holanda. Afinal de contas, Kitty está sempre debaixo da minha secretária e tornou-se a minha sombra. Para onde eu vou, ela vai. Nada lhe escapa. E ela também o foi com Leone. 

Havia uma excepção. Quando Leone e eu fomos juntos para Badajoz en Espanha. Depois ficou com Coen na quinta. Fomos lá, na grande cidade, à loja de desenho para comprar materiais para a sua obra de pintura, brevemente ao Corte Ingles para terminar no grande centro comercial El Faro e no Outlet do Corte Ingles. O almoço foi uma parte importante do dia. Tentámos todos os restaurantes ao longo dos anos e o pequeno italiano é e continua a ser o melhor. 

Para Badajoz, é mais de uma hora de carro. No caminho para lá, falámos do seu trabalho, inspiração e disciplina e do que ela tinha vendido, das últimas notícias da aldeia, das nossas famílias e da confusão na política local. Ela poderia ficar irritado com isso. Durante as compras, não dissemos muito porque, para Leone, isso era um empreendimento profissional. Passear por entre as estantes infinitas. E ela normalmente encontrava o que procurava a um grande preço. Para ela, isso era um desporto. Ela tinha olhos duma águia. Durante o almoço, havia sempre vinho tinto e tempo para tomar notícia dos nossos arredores. A gente, os terraços, a vida espanhola barulhenta e convivial. No caminho de regresso, as conversas tratavam-se sempre de comida. Sem excepção. Porque uma boa comida era essencial para Leone e para mim ainda é.

Nunca mais fui às compras em Badajoz, com uma amiga. Nem sozinho.