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Todos têm algo a ver com o mês de Dezembro. Para o melhor e/ou para o pior. Conheço muito poucas pessoas que são neutras a este respeito. Porque se há agora um mês no ano que está repleto de programação global, é este.
Há apenas alguns anos atrás, pensava que Dezembro era o mês mais agradável. Com as celebrações à moda antiga da festa do São Nicolau (5 de dezembro, com presentes) com a família holandesa do meu pai, duas semanas depois o meu aniversário, seguido por o Natal com a família da Indonesia da minha mãe, que incluía sempre as tias solitárias.
Viver em Portugal rural, algures nas montanhas, provocou uma mudança em mim. O Natal de 2019 foi a minha última vez na Holanda, pouco antes do deslizamento de terras do mundo. Eu poderia ter sabido. A tarde em que lá voei foi metade de um furacão em Portugal, o aeroporto cheio de viajantes perdidos e o meu voo foi o último. O resto foi cancelado. Horas mais tarde, a meio da noite, cheguei ao país baixo. Escuro e frio. Seria a minha última viagem por agora.
Aquela semana na Holanda foi confundida para mim, ficando com amigos, e não percebi de todo porquê. Os meus amigos são pessoas encantadoras, assim como o meu filho mais velho e a sua família, para não falar da minha querida irmã e do meu cunhado. Todos sempre dispostos a divertir-se e a ter uma positividade leve. Foi encantador vê-los novamente e, no entanto, senti-me como um estrangeiro na minha cidade favorita de Holanda, a Haia. O calor e a alegria do Natal há muito que já não existia para mim, porque, tal como na casa dos meus pais, nunca mais voltaria a ser assim. Simplesmente porque já não estavam lá. Após a sua morte, tudo era diferente. Já ninguém precisava fazer algo. Apercebi-me subitamente que durante muitos anos (seguindo o exemplo da senhora a minha mãe), mantive as coisas a funcionar e todos cooperaram e sem dizer nada. Uma vez que deixei o país, também não tive de o fazer. Porque a família lá e eu aqui.
Tornaram-se tempos confusos para mim. Porque como é que se reinventa tal e tal coisa e a si próprio? Acabou por não ser necessário, porque “graças” ao desmoronamento global, tive todo o tempo necessário para terminar o livro sobre a história da família e depois tudo correu numa maneira natural. Quase dois anos de investigação arquivística implicaram dois anos de auto-exame. Não tive escolha e posso dizer-vos que tudo o que experimentei na minha vida até agora em termos de aventura não se aproxima deste mergulho no desconhecido, na escuridão. Uma constelação familiar no sentido mais puro da palavra.
Estamos agora em Dezembro de 2022. Nada mudou no ciclo da natureza. Tão maravilhoso a natureza, nunca muda. Faz o seu trabalho à sua maneira. Sempre. O que quer que as pessoas façam para se distraírem e separarem da natureza que elas próprias são.
Os dias estão a ficar mais curtos, está frio lá fora (sim, connosco em Portugal também) e a salamandra queima em pleno dia e noite. Tenho uma necessidade exclusiva de ser um recluso e, felizmente, os meus companheiros de casa também. Até os animais cantarolam e ressonam o dia todo. Para mim, é uma hibernação exterior, entrando na minha própria escuridão, mas activa num outro nível de consciência. Todos os exteriores caem, apenas a pureza do movimento das trevas para a luz.
Então surge a questão: o que é que não quero levar comigo para 2023? Ou: até que ponto as minhas acções em 2022 ainda foram determinadas pela caça ao amor, aprovação e apreciação dos outros? O que eu respondo é o que deixo para trás. Mais simplicidade significa menos distracção do mais importante de tudo: ligar-me a mim mesmo. Mais uma vez, entro num novo ano mais leve.
Também não tenho boas intenções nem árvore de Natal, mas isso é porque temos um novo gato. Durante estes dias sombrios, com boa coragem e cheio de vontade, crio agora todo o espaço de que preciso para deixar as coisas velhas ir em liberdade. Assim, não só os dias ficam mais leves, também eu. Garanto isso porque por esta altura já sou um perito por experiência. No meu pequeno mundo, não vejo mais nada. E assim criamos uma nova vida, na qual moldamos a sociedade em conjunto, guiados pelo princípio antigo: o que não quer que lhe seja feito, não o faça a outra pessoa. Eu testo tudo contra esse princípio. Tudo o resto é uma pista falsa.
Isabel pires
Que maravilha poder ler o que também escreve, e em tantas coisas me revejo. Gratidão ❤️🙏😘